Mas como é que pegam um ossinho e fazem o bicho inteiro?
- Renata Nemitz
- 22 de jun. de 2015
- 2 min de leitura
Eu tenho certeza de que você já se perguntou isso... E de que já resmungou também 'devem inventar tudo isso aí'.
Não, eu não tenho poderes psíquicos, é uma questão muito válida então vamos tentar explicar um pouquinho.

Vão mesmo, Sid. Mas não tema! Os paleontólogos vão colar seus ossos bem direitinho!
* Os métodos explicados a seguir foram realizados na restauração de fósseis da Megafauna do Quaternário tardio, provenientes de Baixa Grande, Bahia.
O material fóssil geralmente é encontrado fragmentado e desarticulado, o que dificulta a classificação e posterior acondicionamento. Com toda essa dificuldade é preciso que a pessoa responsável pela restauração tenha grande habilidade manual e muito conhecimento anatômico do fóssil.
O primeiro passo é fotografar o material in situ, ou seja, no local onde foi achando, antes de qualquer um mexer. Isso pode ajudar muito o restaurador a entender que pedaço é o que.
O próximo momento é crítico... A retirada do material. As ferramentas precisam ser bem escolhidas para não criarem marcas nos fósseis que podem confundir o restaurador ou danificar o material. Os instrumentos podem ir de pincéis e palitos de madeira a escovas.
É muito comum que haja uma grande quantidade de pedaços de uma mesma peça, inviabilizando a colagem. Nesse caso é realizado o processo de consolidação dos fragmentos a partir de submersão em uma solução de Paralóide B72 e acetona. Essa solução penetra nos poros do material e depois disso fica bem mais fácil de fazer a colagem.

Estágios de preparação de um fêmur de Eremotherium laurillardi – UFRJ DG 422-M – em restauração,
proveniente de Baixa Grande, Bahia. A, retirada do gesso; B, restauração da epífise distal; C, restauração da epífise
proximal e diáfise; D, colagem dos fragmentos; E, peça finalizada (vista lateral).
Mesmo com todo esse cuidado podem faltar alguns pedacinhos da peça... E aqui entra a magia do gesso odontológico. Esse fêmur de Eremotherium laurillardi passou por esse procedimento para a restauração ser concluída.
Esse trabalho de restauração, além de extremamente legal, é chave para a identifcação correta do fóssil. Alguém tem um estágio na área pra me arrumar?
Ah, o resultado dessa trabalheira toda (multiplicada por cada ossinho) é assim:

Eremotherium laurillardi (Giant Ground Sloth), Late Pleistocene (100,000 years old) - Brian J. McMorrow
Referência:
Simone Silva de Santana, Ricardo da Costa Ribeiro, Fábio Henrique Cortes Faria e Ismar de Souza Carvalho. RESTAURAÇÃO DE FÓSSEIS DA MEGAFAUNA DO QUATERNÁRIO TARDIO DE BAIXA GRANDE, BAHIA. Universidade Federal do Rio de Janeiro, Instituto de Geociências – Departamento de Geologia.
Comments